Turistas brasileiros devem se preocupar com a saída do Reino Unido da UE?
Britânicos votaram referendo e aprovaram desligamento do bloco econômico
O mundo começou esta sexta-feira (24) diante de um fato inédito: um membro da União Europeia votou por deixar o bloco. O Reino Unido deverá caminhar nos próximos anos para o desligamento dos acordos econômicos e políticos hoje vigentes com os demais países. Mas qual é o impacto imediato para nós brasileiros do referendo votado pelos britânicos?
A primeira questão é: tendo você viagem marcada ou não, nada muda. O professor do Carlos Roberto Pio da Costa Filho, da Faculdade de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília), explica que o controle da entrada de turistas sempre foi diferente no Reino Unido.
— A Inglaterra já fazia em separado o controle [de imigração] por fora da zona de Schengen. Quando você pega, por exemplo, um visto para ir para a França, ele te permite ir para vários países europeus, porque eles fazem parte desse acordo que se chama Schengen.
Na prática, um turista que passa pela imigração de um dos 25 países signatários do acordo de Schengen pode entrar livremente nos demais. Isso nunca valeu para o Reino Unido que, por sinal, tem um controle mais rigoroso da entrada de turistas do que outros países.
Ele acrescenta que o mesmo vale para estudantes de intercâmbio.
— Não há qualquer tipo de discussão ou de questionamento sobre manter o ambiente atraente para estudantes ou turistas.
Vale lembrar que a Inglaterra tem algumas das melhores universidades do mundo, como Cambridge e Oxford. Luiz Fernando Pereira é advogado especialista em direito internacional e estudou em Bristol e em Leeds. Ele teme que, com a saída efetivada, haja menos incentivo para estudantes estrangeiros.
— A entrada de alunos de outros países aumentou com a adesão do país à União Europeia. Ao longo dos anos, as instituições criaram programas e incentivos para estrangeiros. A consequência foi um forte desenvolvimento local na economia de muitas cidades que têm universidades.
Costa Filho explica que os mais atingidos com a saída definitiva serão os próprios europeus. Consequentemente, brasileiros que possuam também cidadania de algum país do bloco e desejem viver no Reino Unido poderão ter que se adequar às novas regras ou até, em um caso mais extremo, deixar a Grã-Bretanha.
— A discussão principal envolve o imigrante europeu que vai para o Reino Unido. Aí o problema não é por ser brasileiro, mas por querer se apresentar como cidadão europeu. Mas a efetivação da saída [do país da União Europeia] não é imediata e nem se sabe como ela vai ocorrer.
Moeda
O Reino Unido também nunca adotou o euro, moeda comum de 19 países da União Europeia, mantendo a libra esterlina. Com relação a isso, o planejamento da viagem, mesmo que distante, também não sofre qualquer impacto.
A boa notícia para quem quiser viajar para a Grã-Bretanha é que a aprovação da saída da UE derrubou a cotação da libra — a maior queda em 30 anos — nesta sexta-feira (24). Aqui no Brasil, a moeda era negociada próxima a R$ 5 nas casas de câmbio.
O professor Costa Filho, da UnB, lembra que, enquanto o turista sai ganhando, empresas brasileiras podem ser impactadas.
— Não tem nenhuma política de mudança de preços que não tenha resultado positivo para alguém e negativo para alguém. Por exemplo, uma empresa brasileira que fez contratos no passado com o Reino Unido, mas ainda tem a receber. Ela vai receber menos em reais ou em dólares do que o esperado. É verdade que para o turista ou estudante brasileiro que vai para o Reino Unido agora é a hora de comprar libras, principalmente se comparar com o passado.
O comportamento da libra daqui para a frente é incerto. Pode haver desde a estabilidade até uma grande depreciação da moeda em relação às outras. A dica para quem vai viajar é comprar aos poucos, amortizando assim a oscilação brusca, caso ela volte a subir por algum motivo.
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