Coreia do Norte faz teste nuclear: o país é capaz de promover um ataque?
- Jung Yeon-je/AFPTeste nuclear na Coreia do Norte, comandanda por Kim Jong-un (na tela da TV), foi criticado pela comundidade internacional; a Coreia do Sul diz que ato revela "imprudência maníaca" do vizinho
A Coreia do Norte afirma ter conduzido com sucesso seu quinto e mais potente teste nuclear, aumentando a tensão na região e os temores de que o país esteja incrementando um arsenal nuclear de olho em possíveis conflitos militares.
O anúncio, feito nesta sexta-feira (9) pela mídia estatal, veio horas depois de uma forte abalo ter sido detectado em uma área próxima ao local de testes. Antes mesmo da confirmação oficial, líderes internacionais já tinham condenado a iniciativa norte-coreana.
O presidente sul-coreano, Park Geun-Hye, classificou o teste de ato de "autodestruição" que expôs a "imprudência maníaca" do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un. Os EUA e a China, aliada dos norte-coreanos, também se opuseram ao plano do país de investir em armas nucleares.
As estimativas da potência da explosão desse quinto teste ainda não são precisas. Há especialistas que sugerem que ela atingiu níveis superiores à bomba lançada pelos Estados Unidos em Hiroshima, em 1945.
Esse novo teste traz à tona várias questões sobre o programa nuclear da Coreia do Norte. Veja as respostas a algumas delas.
A Coreia do Norte tem uma bomba nuclear?
Tecnicamente sim - o país conduziu vários testes com artefatos nucleares.
Mas para lançar um ataque nuclear contra outros países, a Coreia do Norte teria de produzir uma bomba pequena o suficiente para caber em um míssil.
A Coreia do Norte diz ter "miniaturizado" ogivas nucleares com sucesso - mas essa afirmação nunca pôde ser comprovada de forma independente, e muitos especialistas duvidam disso.
O país alega ter realizado cinco testes nucleares de sucesso desde 2006. Só em 2016 realizou dois.
Analistas acreditam que os dois primeiros testes usaram plutônio. Não se sabe ao certo se o terceiro, em 2013, usou plutônio ou urânio como matéria-prima. Mas acredita-se que essas três ocasiões testaram bombas atômicas.
A Coreia do Norte diz ter realizado, em janeiro passado, seu primeiro teste de uma bomba de hidrogênio ("Bomba H"), que é mais poderosa e usa a fusão de átomos para liberar enormes quantidades de energia. As bombas atômicas, por sua vez, usam a fissão nuclear, ou seja, a divisão de átomos.
Mas especialistas questionam se o teste de janeiro foi de fato de uma "Bomba H" , dada o dimensão da explosão registrada.
Em seguida, Pyongyang teria lançado um satélite - o que foi encarado pela comunidade internacional como um experimento da tecnologia de lançamento de mísseis de longo alcance.
Detalhes do quinto teste ainda não foram liberados.
O que se sabe sobre o programa nuclear norte-coreano?
Sempre se acreditou que a principal instalação nuclear da Coreia do Norte ficaria perto da cidade de Yongbyon. O governo chegou a prometer, em várias ocasiões, que suspenderia as operações no local. Chegou a garantir que destruiria a torre de refrigeração em 2008 como parte de um acordo de desarmamento nuclear.
No entanto, os EUA acreditam que os norte-coreanos mantém ocultas suas instalações nucleares. Essa suspeita foi reforçada quando o cientista norte-americano Siegfried Hecker disse, em 2010, ter recebido informações sobre a existência de uma instalação de enriquecimento de urânio em Yongbyon, em uma usina oficialmente ligada à geração de eletricidade.
Em março de 2013, depois de uma troca de acusações com os EUA e de novas sanções da ONU por causa do terceiro teste nuclear, a Coréia do Norte ameaçou reativar todas as instalações, em tese desativadas, em Yongbyon.
Em 2015, uma organização norte-americana disse que imagens de satélite indicavam que o reator de Yongbyon poderia ter sido reativado.
Os testes de janeiro e setembro deste ano foram realizados em Punggye-ri, no extremo norte do país.
Tanto os EUA quanto a Coreia do Sul também acreditam que os norte-coreanos têm outras áreas ligadas a um programa de enriquecimento de urânio, uma vez que o país tem reservas abundantes de minério de urânio.
Como a comunidade internacional tem respondido aos planos nucleares da Coreia do Norte?
EUA, Rússia, China, Japão e Coreia do Sul fizeram várias rodadas de negociações com os norte-coreanos, mas não conseguiram demover Pyongyang da ideia de investir em armamento nuclear.
A Coreia do Norte aceitou, em 2005, um acordo para desistir de suas ambições nucleares em troca de ajuda econômica e concessões políticas, mas a implementação revelou-se difícil e praticamente não andou até 2009.
Repentinamente, no início de 2012, os norte-coreanos anunciaram que iriam suspender as atividades nucleares e os testes de mísseis em troca de ajuda dos EUA. Mas a negociação não avançou porque Pyongyang tentou lançar um foguete em abril daquele ano.
A ONU aumentou as sanções impostas aos norte-coreanos após o teste de 2013.
Ao insistir em realizar testes nucleares em 2016, a Coreia do Norte atraiu críticas até da China, seu principal aliado. Ainda assim, os chineses têm reagido com cautela para não desestabilizar os já voláteis vizinhos.
Os testes recentes fizeram a Coreia do Norte avançar em seu programa nuclear?
Após os testes de 2013 e 2015, a Coreia do Norte alegou que conseguiu reduzir um artefato nuclear ao tamanho necessário para colocá-lo em um míssil - alegação contestada pelos EUA.
Pyongyang também disse que o teste de 2013 foi bem mais potente que os anteriores. Contudo, monitores não conseguiram detectar isótopos radioativos, um indicador-chave para medir potência. Por isso, a incerteza permanece.
A comunidade internacional também mostrou ceticismo em relação ao suposto teste subterrâneo da bomba de hidrogênio em janeiro 2016. Mais uma vez não foi verificado se de fato foi testado o dispositivo nuclear em miniatura que os norte-coreanos alegam ter criado com sucesso.
Medições do teste desta sexta indicaram, segundo o analista de Coreia do Norte Jeffrey Lewis, que o artefato usado teria uma potência de entre 20 a 30 quilotons. Se o dado for confirmado, ele seria mais potente do que as duas bombas usadas em Hiroshima e Nagasaki, no final da 2ª Guerra Mundial.
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