Velocidade em SP cairá para 50 km/h até fim do ano
As exceções para a queda são parte do corredor norte-sul, entre o
Aeroporto de Congonhas e o Centro
A queda de velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê não diminuiu o
número de acidentes nas duas vias. Ao contrário, eles aumentaram, segundo disse
o presidente da Comissão de Direito Viário da OAB-SP (Ordem dos Advogados do
Brasil, seção São Paulo), Mauricio Januzzi, em entrevista exclusiva ao
DIÁRIO, com base em um laudo encomendado pela instituição.
A principal justificativa da Prefeitura para a redução do limite máximo
de velocidade nas marginais, adotada em 20 de julho, é que a medida fará cair a
quantidade de acidentes e atropelamentos.
Em 2014, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), 73 pessoas
morrem no trânsito das duas vias.
O documento será apresentado ao TJ-SP (Tribunal de Justiça de São
Paulo) para embasar a ação civil pública impetrada pela entidade com o objetivo
de cassar a nova regulamentação. A entrega do laudo deve ocorrer na próxima
semana.
“O estudo conseguiu mostrar que a redução não impede a ocorrência de
acidentes. Ao contrário, os carros passaram a ficar próximos um dos outros e a
chance de batidas ficaram maiores”, disse Januzzi.
Segundo o advogado, “a consequência é que qualquer frenagem
ocasiona acidentes com colisão traseira, tanto é que ocorreram dois
engavetamentos nas últimas semanas com feridos. O que significa que a premissa
que a redução é para evitar acidentes está furada.”
De acordo com Januzzi, o laudo também tem mostrado que a presença
de pedestres e camelôs nas marginais ainda é uma rotina, apesar da promessa de
alção da Guarda Civil Municipal.
“O estudo ainda constatou que não se fiscaliza motociclistas. E a
Prefeitura fechou os olhos à questão dos pedestres e vendedores ambulantes que
circulam pelas marginais, pois eles continuam lá, transitando onde não pode”,
afirmou.
Na JUSTIÇA /A OAB fará uma petição juntando o laudo em
contraposição aos estudos da CET que apontam as razões para a redução dos
limites máximos de velocidade nas duas marginais.
“Com esses estudos, o juiz poderá nomear um perito ou entender que
a análise da OAB parece mais lógica e dar uma tutela antecipada,
determinando, em forma de liminar, que se aumente a velocidade nas marginais”,
disse Januzzi.
De acordo com o advogado, três peritos realizam o laudo. “São
pessoas que fazem trabalho voluntário. Teve gente ontem (quinta-feira) e
hoje (ontem). E vai ter no fim de semana, in loco, nas marginais realizando o
estudo.”
Januzzi também criticou a política de mobilidade urbana do
prefeito Fernando Haddad (PT), a conduta do Ministério Público na
avaliação da ação movida pela OAB-SP que pede a cassação da redução, além da
rescisão de contrato com o consórcio responsável pelas obras da Linha-4 Amarela
do Metrô, anunciada na semana passada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Tráfego é bloqueado durante um protesto de caçambeiros
Um protesto envolvendo motoristas de caminhões para transporte de
caçambas travou a Marginal Tietê na tarde de ontem – por volta das 15h, eles
chegaram a fechar a via no sentido Rodovia Ayrton Senna.
O protesto foi nas imediações do estádio da Portuguesa, no Canindé,
região central da capital, mas os reflexos atrapalharam a vida de motoristas
que vinham da Marginal Pinheiros, sentido Zona Leste.
O protesto deu resultado em partes. A Prefeitura decidiu adiar em 20
dias o início da fiscalização eletrônica da destinação das caçambas que
recolhem entulho na cidade. Ela estava prevista para começar no próximo dia 19,
mas ficou para 8 de setembro.
“Toda mudança de cultura exige firmeza de um lado, mas também capacidade
de negociação. Essa lei é de 2005 e não foi regulamentada até hoje”, afirmou o
prefeito Fernando Haddad (PT).
“A cidade gasta R$ 1 bilhão com um contrato de varrição que envolve o
cata-bagulho e isso é exagero em qualquer cidade do mundo. Vai ser dado um
pouco mais de prazo, mas o controle eletrônico é fundamental. Não podemos abrir
mão”, disse.
RESPOSTA dos governos:
Prefeitura se silencia
A Prefeitura informou que não iria comentar as declarações do
presidente da Comissão de Direito Viário da OAB-SP, Maurício
Januzzi. Em nota, o Metrô disse que "lamenta que um técnico emita juízo de
valor sobre um processo licitatório sobre o qual demonstra ter total
desconhecimento. A licitação da Linha 4 – Amarela foi uma concorrência
internacional financiada pelo Banco Mundial e, portanto, seguiu todas as
regras impostas pelo Banco. Isso inclui a pré-qualificação das concorrentes,
entre uma série de outras exigências. Além disso, o contrato passou pelo crivo
do TCE (Tribunal de Contas do Estado) , de juristas do próprio banco e pelo
corpo jurídico do Metrô.” Já o Ministério Público informou que não é
favorável à Prefeitura e que ainda analisa a redução de velocidade nas
marginais.
Entrevista com Mauricio Januzzi, direito Viário OAB-SP:
DIÁRIO_ Como o senhor avalia a posição do Ministério Público Estadual,
que se mostrou contrário as alegações iniciais dadas pela OAB-SP na ação civil
pública que pede a cassação da redução de velocidade nas marginais Pinheiros e
Tietê?
MAURICIO JANUZZI_ O Ministério Público tem de se manifestar sobre a ação
civil pública, necessariamente. Aí, vem uma incongruência grande. O MP se
posicionou favoravelmente aos argumentos da Prefeitura. Só que este mesmo MP
tinha pedido a instalação de um inquérito civil para apurar se esse estudo
estava correto ou não. Ora, se estou abrindo um inquérito para apurar isso,
como é que eu posso ser a favor de algo que eu vou apurar. Parece-me meio
incongruente, ao menos precipitado e estranho.
Como o senhor enxerga a suspensão das licitações pelo TCM (Tribunal de
Contas do Município) de alguns dos principais corredores de ônibus prometidos
pelo prefeito Haddad?
Governar é priorizar. Ao invés dele (Haddad) ter aplicado recursos na
implantação de ciclofaixas e ciclovias, deveria ter investido esse dinheiro na
construção de corredores, no escoamento do transporte público de massa. Há um
desvio de finalidade. Eu poderia ter economizado esse dinheiro da ciclofaixa
para investir em algo que é mais útil à população, o corredor de ônibus. É um
erro de gestão de estratégia
E como o senhor avalia a rescisão contratual das obras da Linha-4
amarela do Metrô?
Avalio muito mal. A administração pública precisa saber quem contrata.
Quem contrata mal, contrata duas vezes. Estamos conversando com o Estado para
saber o que aconteceu. Vamos acompanhar isso sob o ponto de vista da
legalidade.
Em quatro meses, a velocidade padrão das vias cairá a 50 km/h
POR: Lucilene Oliveira
Depois de anunciar a queda na velocidade padrão da cidade para 50 km/h
e nas vias locais para 40 km/h “como em qualquer país civilizado”, o
prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou ontem que a medida vai ocorrer até o fim
deste ano.
O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, havia dito
anteriormente que a mudança iria ocorrer gradativamente até o fim do mandato,
em dezembro de 2016, mas o prefeito disse que os estudos já estão prontos e
necessitam apenas das sinalizações.
“Exige um planejamento para reemplacar as ruas. Até o final do ano, o
padrão das vias será de 50 km/h e o das locais de 40 km/h”, afirmou.
As exceções para a queda são parte do corredor norte-sul, entre o
Aeroporto de Congonhas e o Centro, que deve permanecer com a velocidade máxima
de 60 km/h, e as faixas expressas (70 km/h) e centrais (60 km/h)
das marginais, que já tiveram redução e, ainda assim ficaram acima do padrão.
De acordo com Haddad, a cidade vive um momento prático em relação
a redução nas principais vias de ligação.
“Estamos acompanhando e, obviamente, não dá para em três semanas
consolidar o entendimento, mas todos os indicadores até aqui são que a operação
está muito bem-sucedida”, afirmou, aproveitando para alfinetar quem é
contrário à medida. “Tudo que alardiaram, como arrastão e
histeria, não aconteceu.”
Apesar de afirmar que os números dia a dia apontam uma fluidez melhor,
o prefeito afirmou que cravar qualquer informação ainda é prematuro.
“Eu não quero antecipar um resultado que exige mais tempo para ser
consolidado pela CET, mas os indicadores preliminares são positivos”, afirmou.
Mais devagar /Além das marginais Tietê e Pinheiros, que sofreram redução na velocidade
máxima em 20 de julho, outras duas importantes avenidas da cidade
tiveram queda na máxima de 60 km/h para 50 km/h, no último dia 3 de agosto:
Jacu-Pêssego e Aricanduva.
As avenidas São João, General Olímpio da Silveira e Rua Amaral Gurgel,
no Centro, também tiveram queda.
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