domingo, 11 de setembro de 2016

Ameaça global, ideologia religiosa e lobos solitários: 11 de Setembro deu início a uma nova Era do terrorismo

Organização e atuação dos grupos terroristas mudaram drasticamente nos últimos 15 anos


Local onde ficavam as torres gêmeas é iluminado em homenagem às vítimas do ataqueThinkstock
Há exatos 15 anos, o ataque da Al Qaeda contra as torres gêmeas do World Trade Center deixou o mundo inteiro alarmado e marcou o início de uma nova Era do terrorismo. Antes tratado como um problema local, os atos de terror passaram a ser uma ameaça que ultrapassa qualquer fronteira. Antes vindos de grupos organizados e facilmente identificáveis, os terroristas passaram a se dividir em pequenas células quase imperceptíveis aos olhos das Forças Armadas. Tudo isso aliado às inovações tecnológicas na comunicação, transporte e armamentos fizeram com que o terrorismo se tornasse um dos maiores problemas mundiais.
Essa mudança de análise do terrorismo, de um problema isolado de cada país para uma ameaça global, é um dos principais fenômenos que se desenvolveram a partir do 11 de Setembro, afirma Marcus Reis, advogado e especialista em antiterrorismo.
— O 11 de Setembro fez com que o mundo tivesse que reorganizar sua agenda de segurança, assinando vários tratados internacionais para tentar combater o terrorismo. A segurança global foi colocada no número um da agenda mundial e, até hoje, este continua sendo um dos assuntos mais importantes dessa agenda. Foi ali que o mundo percebeu que não existe mais um país livre da possibilidade de atentados. Apesar de termos os chamados países-alvo, como EUA e Europa, qualquer país do mundo que sedie um grande evento esportivo, um encontro internacional ou que tenha embaixadas pode ser palco de um ataque. Com a segurança reforçada em países como EUA e Europa, os terroristas começam a ir para outros locais onde a segurança não seja tão grande.
Segundo Marcus, o tipo de terrorismo combatido também mudou drasticamente nos últimos anos, completa Reis.
— O terrorismo separatista, tradicional, deixou de ser o foco. O mais importante passou a ser o terrorismo religioso, com alguma ideologia religiosa por trás. Hoje em dia, é o terrorismo islâmico radical.
Assim como o tipo de terrorismo, a estrutura e organização dos grupos também foi modificada.
— Com o 11 de Setembro aconteceu um fenômeno muito importante, que é a invisibilidade desses grupos. Até então, a estrutura de um grupo terrorista mais utilizada era uma estrutura hierarquizada, você conseguia ver quem estava no comando e como funcionava essa estrutura. Então, grupos como o ETA, o IRA e as Farc, você sabia quem eram os líderes, com quem era feita as negociações. A partir do ataque, uma força mundial começou a mapear e combater organizações como a Al Qaeda. Então, elas tiveram que ir se descentralizando e adotando o que chamamos de uma estrutura de rede, na qual é muito difícil você visualizar quem é quem. Depois do 11 de Setembro, a Al Qaeda se espalhou por mais de 60 países do mundo.
R7
Com a popularização da internet, as comunicações de todo o mundo, incluindo de grupos terroristas, se tornaram mais fáceis e baratas, principalmente, por meio das redes sociais. Com o maior acesso a informações, a descentralização dos grupos terroristas se uniu à pregação radical online, aumentando a chance de ataques feitos por pequenas células terroristas ou por lobos solitários, explica o especialista.
— Se, antes, os ataques eram menos frequentes, mas amplamente planejados, hoje, eles estão se tornando cada vez mais frequentes e menores. Os lobos solitários surgiram na década de 1990, nos EUA, ligados a organizações racistas. Mais recentemente, um muçulmano sírio espanhol, Mustafá Setmarian, escreveu um livro pregando que cada muçulmano seja um lobo solitário em defesa do Islã. Ele pertenceu a Al Qaeda e, hoje, está no EI (Estado Islâmico) e é um dos maiores pregadores de ações solitárias pelo mundo. É muito difícil guerrear contra um Estado, então, os terroristas têm que se misturar a população local e, aos poucos, ir planejando seus atentados.
A evolução tecnológica de armamentos e transporte também tiveram um papel fundamental para o desenvolvimento do terrorismo para ultrapassar antigas barreiras territoriais.
— O fenômeno da globalização ajudou muito a nossa vida em sociedade, mas também ajudou muito esses grupos terroristas. No transporte, por exemplo. Hoje, em no máximo 36 horas, eu posso estar em qualquer lugar do mundo, posso movimentar pessoas de maneira mais fácil. No século passado, isso era mais difícil, o custo das passagens era mais alto, não existiam tantos voos. As armas também mudaram. Antigamente, o terrorista usava dinamite ou uma pistola, hoje, ele já tem um arsenal de armas químicas, biológicas, radiológicas, tudo a um custo mais baixo e com acesso mais facilitado.
Todas essas mudanças no perfil do terrorismo também fizeram com que as Forças Armadas de todo o mundo tivessem que adaptar o combate das táticas de terror de grupos como o EI.
— Hoje, as Forçar Armadas têm equipamentos moderníssimos para monitorar uma organização terrorista. Temos interceptação de dados, de comunicações telefônicas, imagens de satélite. No entanto, ainda estamos caminhando no desenvolvimento de softwares para monitoramento de redes sociais, para detectar e prever ameaças. Para grandes grupos se comunicarem, hoje, ficou mais difícil. Então, eles têm que achar outros mecanismos. Por isso que essa descentralização, essa formação de células, uma célula não conhecer a outra, não conhece as missões da outra e não se relacionam. E, assim, surge o grande problema de hoje, que é o lobo solitário, muito difícil de monitorar.
Além disso, Reis ressalta que é preciso estar preparado para lidar com um ataque terrorista, além de combater a radicalização.
— A gente tem que estar preparado para seguir a vida após um possível ataque. A prevenção é importante, mas também que se preparar para o depois: ter equipes para descontaminar a área, engenheiros para trabalhar na reconstrução, médicos especializados em ferimentos de guerra, serviço social para confortar vítimas. Fora isso, os serviços de inteligência precisam pensar em ações para desradicalizar terroristas em potencial, fazer uma contrapropaganda e evitar que essas doutrinas se tornem atraentes.

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