Polícia diz que nadadores se envolveram em confusão em posto de gasolina e descarta assalto
Após briga, atletas teriam danificado banheiro e teriam sido abordados por segurançaDo R7, com agências
A Polícia do Rio concluiu, nesta quinta-feira (18), que os quatro nadadores americanos que alegaram ter sido assaltados após saírem de uma festa na zona sul do Rio se envolveram, na verdade, em uma confusão em um posto de gasolina, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Os atletas teriam brigado e quebrado as portas do banheiro do estabelecimento. Após a confusão, um segurança do local apareceu armado e pediu para que eles pagassem pelo prejuízo.
O chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, descartou a hipótese de assalto. Veloso também disse que funcionários do posto estavam com receio de relatar o caso à polícia. Apesar de ter uma nova linha de investigação, a polícia ainda não concluiu o caso.
Em depoimento, o segurança do posto de gasolina afirmou que os atletas chegaram ao local por volta das 6h e provocaram danos no banheiro do estabelecimento.
Após a confusão, eles tentaram voltar ao táxi, mas o segurança impediu e sacou a arma para impedir que eles saíssem sem pagar o prejuízo. Depois da abordagem, eles deram alguns dólares e notas de R$ 100 e foram liberados.
Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que os atletas entram no banheiro. Em seguida, um funcionário do posto aparece e os nadadores deixam o local e seguem para o táxi. Aparentemente embriagados, eles se confundem, param em um primeiro táxi e, em seguida, voltam para o carro que pegaram na festa da Lagoa.
Guerra de versões
O inquérito policial desmente o depoimento inicial dos nadadores. De acordo com a versão original do nadador Ryan Lochte, endossada pelo Comitê Olímpico Americano, os nadadores voltavam de uma festa na Casa da França, na Lagoa Rodrigo de Freitas, quando ladrões armados pararam o táxi em que estavam, exigindo dinheiro e bens.
O caso só veio à tona porque a mãe de Lochte falou a respeito ao jornal USA Today e à rede Fox Sports Australia — os atletas não prestaram queixa.
Lochte disse ao jornal USA Today que ele e os outros nadadores não relataram o caso imediatamente ao Comitê Olímpico Americano porque "estavam com medo de entrar em apuros", porque não sabiam se tinham infringido regras do comitê. E que só fizeram o relato após se certificarem de que não haviam infringido nenhuma norma.
"Nós fomos parados, no táxi, e esses caras vieram com um distintivo de polícia, sem luzes, sem nada, apenas um distintivo, e nos pararam", afirmou Lochte em uma primeira entrevista à rede norte-americana NBC.
— Eles sacaram as armas, disseram aos outros nadadores para deitar no chão — eles se deitaram. Eu me recusei, estava dizendo que não tínhamos feito nada errado — não vou me deitar no chão. E daí o cara sacou a arma, engatilhou, colocou na minha cabeça e disse: 'deite-se', e eu levantei as mãos e estava (agindo como se dissesse) 'paciência'. Ele pegou nosso dinheiro, minha carteira — deixou meu celular e minhas credenciais.
Nesta quarta-feira, contudo, em entevista ao apresentador Matt Lauer, também da NBC, Lotche mudou sua versão. Ele afirmou que a abordagem ocorreu quando o táxi parou em um posto de gasolina para que os nadadores fossem ao banheiro. Nessa ocasião, conforme a NBC descreveu o relato do atleta, dois homens com armas e distintivos se aproximaram do carro e ordenaram que os nadadores descessem e se deitassem no chão.
"Quando eles voltaram ao táxi e pediram ao motorista para ir, disse Lochte, o motorista não respondeu, e os nadadores foram abordados na sequência", afirmou a NBC em texto sobre o caso.
Lochte também disse ao apresentador que a arma foi "apontada na minha direção", o que não bate com sua descrição inicial sobre um revólver ter sido colocado contra sua cabeça.
Questionado sobre essas divergências, o nadador de 32 anos, 12 vezes medalhista olímpico, disse que foi uma "descaracterização traumática" ("traumatic mischaracterization", no original em inglês) motivada pelo estresse do momento.
O apresentador também questionou o nadador se os atletas estavam tentando encobrir algum comportamento constrangedor. "(Mas ele) interrompeu-me rapidamente, negando enfaticamente aquilo", afirmou o jornalista.
Lochte reafirmou que é vítima na história, e que ninguém na polícia disse que ele deveria ter permanecido no Brasil. Ele afirmou ter dito às autoridades que estava localizável e iria cooperar. "Ele (Lochte) disse que (o contato com policiais) foi casual, amigável e vago, e que eles não fizeram muitas perguntas a ele", relatou o apresentador.
Nadadores impedidos de viajar
A pedido da Polícia Civil, que apontou divergências nos depoimentos de Lochte e de outro atleta envolvido, James Feigen, a Justiça proibiu nesta quarta-feira ambos de deixarem o país. Lochte deixou o Brasil na segunda-feira, enquanto Feigen ainda estaria no país, mas seu paradeiro é incerto.
O comportamento dos atletas na chegada à Vila Olímpica, registrado por câmeras de segurança, também chamou a atenção da polícia e da juíza Keyla Blanc, do Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos, que determinou a apreensão dos passaportes.
"Percebe-se que as supostas vítimas chegaram com suas integridades físicas e psicológicas inabaladas, fazendo, inclusive, brincadeiras uns com os outros", afirmou a magistrada na decisão.
O caso alcançou ainda maior repercussão após os outros dois nadadores envolvidos no caso terem sidoretirados de um avião por autoridades brasileiras na noite de quarta-feira. Gunnar Bentz e Jack Conger foram retirados da aeronave e levados para a delegacia da Polícia Federal no aeroporto do Galeão, onde foram liberados sob condição de continuarem a prestar esclarecimentos.
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