Com real fortalecido, brasileiros retomam planos de viajar para fora
Busca por passagens e por moedas estrangeiras cresceu nas últimas semanas
Quando viu, em janeiro, uma passagem para Los Angeles por pouco mais de R$ 1.000, o publicitário Edgar Andrade quase comprou. Mas naquela ocasião, o dólar estava na casa de R$ 4,20 e ele desistiu da viagem.
— Não dava para bancar. Pior do que isso, eu não sabia se ia chegar a R$ 5 ou R$ 10. Era muito arriscado, por mais que a passagem estivesse com um preço tentador. Já pensou, chegar na data da viagem e não ter dinheiro suficiente para ir?
O sentimento dele foi o mesmo de milhões de brasileiros, que viram uma enxurrada de promoções de passagens internacionais no começo do ano, mas não se sentiram confiantes para viajar. Porém, nos últimos meses, o cenário começou a melhorar e o publicitário tomou uma decisão.
— Vi outra promoção para Los Angeles, não tão boa quanto aquela, mas paguei R$ 1.600 na passagem. A diferença é que agora o dólar não está mais R$ 4,20. Já comecei a comprar e estou pagando em torno de R$ 3,50.
O dólar comercial chegou a atingir R$ 4,16 em janeiro. Seis meses depois, bateu a mínima do ano: R$ 3,21. Esse movimento de valorização do real, que ganhou mais força a partir de março com os desdobramentos do processo de impeachment, fez com que a procura por moeda estrangeira aumentasse nas casas de câmbio por todo o País.
No primeiro semestre deste ano, o real foi a moeda que mais se valorizou ante o dólar: 23%. Em junho, o dólar teve a maior queda mensal frente ao real em 13 anos.
Uma família que levava US$ 2.500 para uma viagem nos EUA gastava em janeiro R$ 11.290. Agora, para levar a mesma quantia, desembolsa R$ 8.465.
Fernando Pavani, sócio-diretor da Bee Câmbio, constatou aumento de oito vezes da demanda de clientes no site da empresa. Ele destaca que não é só a moeda norte-americana que voltou a ser procurada pelos brasileiros.
— A procura por euro subiu em termos de proporcionalidade, porque ficou barato. As coisas lá na Europa estão baratas. Já nos Estados Unidos, a inflação diminuiu o poder de compra do dólar. A gente tem visto uma busca muito mais intensa por euro do que por dólar, em termos relativos.
O superintendente de varejo da Confidence Câmbio, Juvenal dos Santos, conta que as operações cresceram quase 35% em junho, se comparado ao mês anterior.
— No online, nós tivemos em um mês crescimento de 99,4%. Nas nossas mesas de operações, que é de atendimento telefônico, tivemos crescimento de 35,35%, e nas lojas, algo em torno de 27%.
O referendo decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia também teve efeitos positivos para viajantes que desejam conhecer a terra da rainha, segundo Pavani.
— Nessa última semana, o volume de libra esterlina no mercado foi algo descomunal. Inclusive, com pessoas que aproveitaram a queda para poder dar uma esticada para a Inglaterra. Só para lembrar, a libra esterlina foi negociada a R$ 7, hoje está R$ 4,50, está quase no preço do euro. Tem gente que vai viajar em 2017 e que já está comprando libra porque caiu agora.
Além de Estados Unidos e Europa, destinos da América do Sul também estão em alta. Em uma rápida busca por casas de câmbio de São Paulo, a reportagem encontrou dificuldades para comprar peso argentino. Em alguns locais, não havia sequer previsão de quando a moeda estaria disponível. O superintendente da Confidence destaca ainda que o peso chileno foi, em junho, a quinta moeda mais negociada.
Promoções de passagens
Desde o fim de 2015, houve uma enxurrada de promoções de passagens internacionais, mesmo com o dólar no patamar de R$ 4, destaca o gerente de marketing da ViajaNet, Gustavo Mariotto.
— O valor da passagem aérea em dólar ter reduzido nas companhias aéreas internacionais fez com que o preço da passagem em real ficasse cerca de 30% mais baixo do que quando o dólar estava abaixo de R$ 3.
Ele lembra ainda que, após essa fase, algumas companhias cancelaram rotas e frequências, para ajustar a oferta à demanda. Com isso, os preços tiveram uma leve alta.
— Agora, a gente começou a perceber um pouco o aumento das tarifas em dólar. Chegou o momento de as companhias retomarem a tarifa base delas, mas ainda é atrativo.
Apesar do aumento da tarifa em dólar, o diretor do site de comparação de preços Kayak, Kaio Philipe, acrescenta que a queda da moeda norte-americana deixa algumas passagens tão baratas quanto no começo do ano.
— Hoje, neste exato minuto, você tem passagem por R$ 1.300 por Miami. Apesar de as companhias aéreas terem colocado o pé no freio porque existia mais oferta do que demanda, as grandes empresas estão aqui com voos diários. Todas elas precisam lotar esses aviões que cabem 400 pessoas. Então, ainda existe muita oferta, a taxa de ocupação dos voos não está tão alta assim.
Um levantamento feito pelo Kayak na segunda quinzena de junho, em comparação com os primeiros 15 dias de janeiro, mostrou crescimento de 35% das buscas por passagens para Orlando e de 30% para Miami. Lisboa, Paris e Nova York também voltaram ao radar dos brasileiros.
O diretor do site argumenta que muitos brasileiros substituíram destinos nos EUA e na Europa durante os picos do dólar e do euro.
— A gente entende que esse movimento da queda do dólar recente faz com que as pessoas mudem o comportamento dos últimos 12 meses, que foi o de substituir destinos cuja moeda é o dólar ou o euro por destinos como América do Sul e Caribe.
O R7 encontrou na internet passagens com bons preços para os próximos meses. É possível comprar trechos saindo de São Paulo para Madri a partir de R$ 1.524, em julho; ou para Santiago, por R$ 670, em agosto. Há trechos entre Rio de Janeiro e Lisboa a partir de R$ 1.623, em setembro, ou para Frankfurt, por R$ 1.938.
O site ViajaNet fez um levantamento (confira o gráfico) que mostra a variação do preço médio de alguns voos mais procurados por brasileiros. É possível perceber que as passagens de São Paulo para Miami tiveram alta de, em média, 90%, em relação a junho de 2015. Por outro lado, o trecho Rio-Lisboa caiu quase 50%.
Para a CEO da Braztoa, Monica Samia, a pior fase para o setor parece já ter passado e essa demanda reprimida está voltando a viajar.
— O mercado de turismo é muito sensível, tanto para o negativo quanto para o positivo.
Quando o dólar começou a dar sinais de que ia arrefecer e não iria continuar naquele crescimento, a gente já começou a sentir uma melhora no movimento. Agora, com as férias, a gente sente isso ainda mais. Era um movimento represado, que as pessoas estavam na expectativa sem saber o que ia acontecer.
Quando o dólar começou a dar sinais de que ia arrefecer e não iria continuar naquele crescimento, a gente já começou a sentir uma melhora no movimento. Agora, com as férias, a gente sente isso ainda mais. Era um movimento represado, que as pessoas estavam na expectativa sem saber o que ia acontecer.
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