Superfície de Marte foi moldada por tsunamis criados por queda de meteoros
- Alexis RodriguezDesenho mostra níveis da linha costeira do oceano de Marte. Em marrom estão os depósitos do tsunami
Tsunamis gigantescos, com ondas do tamanho de um prédio causadas pelo impacto de meteoros, podem ter modelado a superfície de Marte. Um estudo publicado na revista Nature nesta quinta-feira analisa depósitos de sedimentos encontrados na paisagem marciana. Se confirmada, a descoberta lança luz sobre o formato da costa do oceano que existiu no norte do Planeta Vermelho e abriria caminho para novas pesquisas sobre a vida em Marte.
Segundo o estudo, dois megatsunamis ocorreram no oceano de Marte há 3,4 bilhões de anos. Os eventos tiveram intervalo entre si de alguns milhões de anos. "O planeta possuía um litoral ao redor desse oceano, que incluía formações como praias", diz Alexis Palmero Rodriguez, do Instituto de Ciência Planetária de Tucson, no Arizona (EUA), em entrevista por e-mail ao UOL.
A principal evidência da ocorrência dos tsunamis são marcas na superfície costeira de algo ascendente, que foi capaz de transportar grandes pedras e água por centenas de quilômetros. "Tsunamis são a melhor, se não a única explicação que se encaixa em algo como isso", diz Rodriguez. A hipótese ainda encontra dificuldades para ser comprovada devido à ausência de marcas claras definidoras da antiga costa marciana.
O pesquisador diz que as ondas dos tsunamis tinham em média 50 metros de altura, podendo alcançar 120 metros --a altura aproximada do Edifício Copan, em São Paulo. A água cobriu grande parte das terras baixas do norte de Marte. Segundo os autores, apesar de só terem encontrado evidência de dois tsunamis na área de estudo, outros podem ter ocorrido, com consequências similares. As causas podem ter sido, além da queda de meteoros, grandes deslizamentos ou terremotos.
Para chegar à conclusão, os pesquisadores mapearam áreas da superfície de Marte e realizaram estudos matemáticos. A análise dos dados sugere que o impacto dos meteoros abriu crateras de cerca de 30 km de diâmetro. Para os autores, a descoberta só foi feita agora porque os cientistas estavam, até então, à procura de linhas costeiras na superfície de Marte. "Não as encontramos porque foram enterradas sob os depósitos dos tsunamis. As áreas que eles cobriram são enormes", diz o pesquisador.
O maior dos tsunamis pode ter coberto uma área de 1 milhão de km², enquanto o segundo, uma área de 800 mil km² - aproximadamente as áreas combinadas dos Estados do Pará e do Mato Grosso do Sul. Segundo o pesquisador, megatsunamis não são exclusividades marcianas e podem ter ocorrido na Terra. "Mas são extremamente raros, e os mais catastróficos que conhecemos são pré-históricos".
Vida em Marte após um tsunami
Segundo Rodriguez, o estudo traz novas explicações para a existência de um oceano no pólo norte de Marte. "Nossas descobertas conciliam a hipótese da existência de um oceano com a ausência de marcas de costas distribuídas ao longo de uma elevação constante", afirma. Para ele, a descoberta de depósitos de tsunami é a evidência definitiva da existência do oceano marciano.
Outra implicação da pesquisa seria novos caminhos para o estudo da vida no Planeta Vermelho. O segundo tsunami teria ocorrido em época mais fria, o que teria congelado a água que saiu do oceano. "A análise desses materiais em busca de sinais de vida é importante para avanço dos estudos", diz o pesquisador, que afirma ainda que a análise de sedimentos pode ajudar a avaliar o potencial de habitabilidade do nosso vizinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário