quarta-feira, 2 de março de 2016

#SalaSocial: Confissão de ator sobre 'vício' desde os 12 anos abre polêmica sobre pornografia

  • 1 março 2016
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Image captionO ator criou uma série online para confessar sua compulsão (Foto: Facebook/Terry Crews)
Uma série de vídeos publicada pelo ator americano Terry Crews nas redes sociais, assistida por milhões de pessoas nas últimas semanas, deixou uma pergunta no ar: afinal, a pornografia pode viciar?
Ex-jogador de futebol americano e famoso por sua participação em produções de comédia – como os seriados Todo Mundo Odeia o Cris e Brooklin 9-9 e o filme As Branquelas –, Crews batizou sua websérie, em três partes, de Dirty Little Secrets(algo como "Segredinhos sujos").
Trata-se de um relato franco sobre sua compulsão por pornografia, que ele diz ter começado aos 12 anos de idade. A primeira parte da série foi visita mais de 3 milhões de vezes e atraiu milhares de comentários.
Crews conta que passava horas de seus dias assistindo a filmes pornôs.
"A pornografia atrapalhou a minha vida de várias formas", diz. "Se o dia virou noite e você ainda está assistindo, você provavelmente tem um problema. E esse era eu."
(Foto: Thinkstock)Image copyrightThinkstock
Image captionEmbora muitas pessoas digam sofrer desse mal, especialistas não admitem "vício em pornô"
O ator reconhece ainda que o vício quase lhe custou o relacionamento com sua mulher, a cantora gospel Rebecca King-Crews, de quem chegou a ficar temporariamente separado.
O retorno foi imediato: de um lado, milhares de pessoas aplaudiram Crews no Facebook, elogiando principalmente sua sinceridade. De outro, vários usuários começaram a compartilhar também suas próprias experiências envolvendo compulsões relacionadas ao sexo.
"Eu tenho lutado há anos – ANOS – contra a pornografia. E hoje sou grato por poder dizer que estou sóbrio e que tenho me mantido limpo por algum tempo", disse um usuário.

Controvérsia

Sucesso da empreitada de Crews à parte, a ideia da existência de um "vício em pornografia" é algo controverso. Tanto que ele não está listado, por exemplo, noManual de Diagnóstico e Estatística, a "bíblia da psiquiatria" publicada pela Associação Americana de Psiquiatria.
Muitos especialistas afirmam que o cérebro de uma pessoa assistindo pornô não funciona da mesma forma que o de dependentes químicos, embora as evidências sejam contraditórias nesse ponto.
Em um estudo da Universidade de Cambridge (Reino Unido), por exemplo, pesquisadores monitoraram 19 homens enquanto eles assistiam a filmes pornográficos. E notaram que foram ativados nos cérebros dos voluntários os mesmos pontos de "recompensa" acionados quando um viciado vê sua droga favorita.
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Image caption"Incrível, cara. Se mais homens com a sua influência se levantassem para desafiar mentalidades. Sua honestidade é algo incrível de se ouvir! Você não vê muito disso nos dias atuais", escreveu um usuário do Facebook após assistir a vídeo de Terry Crews
Nicole Prause, pesquisadora da Universidade da Califórnia em Los Angeles, afirma que o consumo de pornografia não pode ser colocado no mesmo conjunto que o de álcool e drogas.
"Nos casos de vício em pornô, o cérebro tem desempenho similar ao registrado em outras dependências, mas apenas até certo ponto. Depois diverge. Quando você vê pornografia, há aumentos nos dispositivos de aprendizado e recompensa. Porém, não é possível ver outros sinais", afirmou ao programa de rádio BBC Trending.
Segundo a especialista, em pessoas viciadas em jogos de azar, por exemplo, o cérebro dá pistas mais consideráveis. Quando são analisadas pessoas que dizem sofrer da compulsão por pornô, a resposta é bem menor.
Sendo assim, afirma Praus, os modelos científicos atuais apontam que pornografia não causa dependência, e por isso tratá-la dessa forma pode ser contraproducente.
(Foto: BBC)
Image captionAntes acostumados a procurar pornografia na internet, usuários agora usam a rede para fugir dela

Teoria e prática

Dizer que não vicia, no entanto, não conforta as milhares de pessoas que desabafam na internet sobre suas dificuldades em deixar a pornografia de lado.
Só um grupo no famoso site de fóruns de discussão Reddit – chamado r/NoFap ("no fap" significa algo como "masturbação, não" na gíria em inglês) – tem mais de 170 mil seguidores, o que o faz tão popular quanto aqueles dedicados à cerveja e à série de jogos GTA, por exemplo.
Muitos dos usuários do fórum – ligado a um site de mesmo nome – dão detalhes sobre sua luta contra a obsessão por pornô e se comprometem a não ter recaídas ou se masturbar por um determinado período de tempo.
Tom (nome fictício) é um professor que vive nos Estados Unidos. Ele afirmou ao BBC Trending que sua compulsão teve início bem cedo e causou sérios danos a seu casamento.
"Você provavelmente já ouviu que assistir pornô é bom, mas não se compara à coisa real", ele diz. "Mas quando você é viciado em pornografia, sente o oposto. Sexo é bom, mas não se compara ao pornô."
Tom conta que chegou a passar semanas assistindo a pornografia por horas todas as noites.
"Eu não conseguia mais ficar excitado com minha mulher, simplesmente porque isso não era mais o suficiente para mim", diz.
E não importa o que os cientistas digam: Tom acredita que é viciado em pornografia – assim como várias outras pessoas no grupo do Reddit.
O professor se desafiou a ficar dois anos sem assistir vídeos pornôs – já se foram 90 dias, mas ele diz que não está sendo nada fácil lutar contra a compulsão e conseguir se livrar de verdade.

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