Após atrasos, Brasil deve enfim lançar “satélite da banda larga” este ano
O Brasil tem um projeto de satélite para levar internet a todos os municípios do país, e ele vem se arrastando há meia década. Previsto inicialmente para 2014, ele deve ser lançado até o final deste ano. Será que agora vai?
O SGDC (Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas) tem dois objetivos: levar internet para a população de áreas remotas, e permitir que os setores civil e militar do governo se comuniquem de forma segura. Por isso, o satélite vai operar em banda Ka, para a Telebras fornecer banda larga a provedores de internet; e também em banda X, para comunicações militares.
O projeto foi anunciado em 2012, mas o contrato com fornecedores só foi assinado no final de 2013, alterando os prazos previstos.
Montagem do SGDC em Cannes, na França (FAB)
Inicialmente, ele faria parte do Programa Nacional de Banda Larga. Lembra? Ele tinha como objetivo massificar o acesso à banda larga até o fim de 2014 oferecendo planos de 1 Mbps por até 35 reais. (Só 7,9% dos acessos no país foram contratados via PNBL.)
Esta semana, a presidente Dilma Rousseff visitou o centro provisório de controle do SGDC em Brasília. Ela promete que o satélite será lançado ainda este ano, e diz: “ele é fundamental para que possamos levar internet banda larga de qualidade aos locais mais distantes do país”.
O satélite
O SGDC ficará em órbita a 36.000 km da Terra e cobrirá todo o território brasileiro. Ele pesa 5,8 toneladas e terá capacidade de transmissão de 54 gigabits por segundo.
O equipamento está sendo montado pela franco-italiana Thales Alenia Space, sob a supervisão da Visiona, uma parceria entre Telebras e Embraer. O custo do projeto é estimado entre R$ 1,7 bilhão e R$ 2,2 bilhões.
Este ano, foi instalada uma antena de 18 metros de altura e 13 metros de diâmetro em Brasília para controlar o satélite à distância. Ainda no primeiro semestre, também estará pronta para testes a outra base de controle, localizada no Rio de Janeiro.
Antena de controle do SGDC em Brasília (FAB)
A Telebras também está negociando o contrato para instalar cinco gateways (centros de processamento do tráfego de internet) que serão instalados em Brasília, Rio de Janeiro, Florianópolis, Salvador e Campo Grande. A norueguesa EMC venceu a licitação; falta acertar os termos específicos.
O lançamento do satélite em órbita está previsto para o terceiro trimestre, e será realizado pela Arianespace – uma empresa da França – a partir de uma base espacial na Guiana Francesa. (Lançamentos no Brasil costumam ser mais complicados.) No entanto, ele só começará sua operação comercial no início de 2017.
Transferência de tecnologia
A Thales Alenia não está apenas montando o satélite: o contrato com o Brasil envolve transferência de tecnologia. A empresa vem capacitando os funcionários brasileiros que trabalharão nas duas estações de controle, em Brasília e no Rio; e também vem treinando profissionais de tecnologia aeroespacial para ensiná-los a construir componentes de satélites.
O programa de absorção de tecnologia envolve mais de 50 técnicos e engenheiros da AEB (Agência Espacial Brasileira), INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Visiona, Telebras e Ministério da Defesa.
Painel estrutural desenvolvido pela CENIC é integrado ao SGDC (Thales Alenia Space)
Além disso, a Thales Alenia Space assinou contrato com a empresa CENIC, de São José dos Campos (SP), para desenvolver um componente do satélite: um painel “sanduíche” de alumínio que servirá como suporte para a bateria. É a primeira integração de peças brasileiras no equipamento.
Este mês, foram aprovados R$ 4 milhões em Subvenção Econômica para a CENIC, a fim de ajudá-la a absorver tecnologia de painéis em fibra de carbono para estruturas de satélites. O edital envolveu a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e a AEB.
“A nossa intenção é que um segundo satélite, a ser construído no futuro, tenha grande parte das peças e equipamentos produzidos no Brasil”, diz Jorge Bittar, presidente da Telebras, em comunicado.
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