quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O astro mais distante do Sistema Solar


POR SALVADOR NOGUEIRA
Um grupo de astrônomos nos Estados Unidos anunciou a descoberta do objeto mais distante já encontrado em nosso Sistema Solar. Por ora, ele atende apenas pela sigla provisória V774104 e deve ter entre 500 e 1.000 km de diâmetro, o que possivelmente faria dele um planeta anão.
Concepção artística mostra como poderia ser o  V774104, objeto mais distante já encontrado no Sistema Solar. (Crédito: Nasa)
Concepção artística mostra como poderia ser o V774104, objeto mais distante já encontrado no Sistema Solar. (Crédito: Nasa)
Pouco mais se sabe sobre ele e as incertezas incluem até mesmo sua órbita exata. Os pesquisadores fizeram a descoberta com o Telescópio Subaru, no Havaí, no mês passado, mas ainda terão de acompanhá-lo por um ano para poder projetar seu traçado exato ao redor do Sol. De toda forma, já se sabe que ele está neste momento a cerca de 15,4 bilhões de quilômetros do Sol, ou 103 unidades astronômicas (1 UA é a distância média Terra-Sol, cerca de 150 milhões de quilômetros), o que faz dele o objeto mais distante já avistado em nosso Sistema Solar.
O anúncio foi feito por Scott Sheppard, da Instituição Carnegie para Ciência, em Washington, durante a Reunião Anual da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronômica Americana, em National Harbor, Maryland.
MISTÉRIOS DAS PROFUNDEZAS
Para ter uma ideia de como V774104 está afastado, basta lembrar que Plutão, recém-visitado pela New Horizons, está a meras 33 UA do Sol. Ou seja, é preciso viajar três vezes mais para chegar até o novo planeta anão. (Por outro lado, as sondas Voyager 1 e 2, lançadas em 1977, estão hoje mais distantes, a respectivamente 133 e 109 UA do Sol.)
E o interessante é que esses planetas anões distantes têm uma fascinante história para contar — e talvez apresentem até mesmo evidências de um outro planeta existente no Sistema Solar, além do cinturão de Kuiper.
Pegue Sedna, por exemplo, descoberto em 2003. Sua órbita já foi traçada e esse planeta anão, em sua aproximação máxima do Sol, chega a 76 UA de distância. Em compensação, no ponto mais distante de sua órbita, chega a 937 UA. Ou seja, traça um percurso bem elíptico (oval) que nunca chega perto seque do oitavo planeta, Netuno, a cerca de 30 UA do Sol.
Agora, se ele nunca chega perto de nenhum planeta, quem deu a estilingada gravitacional para colocá-lo nessa órbita elíptica tão profunda? Ninguém sabe. Há quem cogite que ele foi arrastado para essa órbita na época em que o Sistema Solar estava se formando, e o Sol ainda fazia parte de um aglomerado aberto de estrelas próximas entre si, de forma que a gravidade de uma estrela vizinha poderia ter colocado Sedna nesse percurso. Alternativamente, há quem diga que Sedna nem pertencia ao Sol e foi “roubado” de um sistema planetário vizinho na época de sua formação, o que também explicaria sua órbita. E uma terceira possibilidade é que exista algum planeta de grande porte — talvez tão grande quanto uma superterra — nos confins do Sistema Solar, ainda aguardando descoberta.
Em 2012, outro objeto desse tipo foi encontrado. Designado apenas como 2012 VP113, esse objeto tem periélio de 80 UA e afélio de 446 UA. Parece portanto exibir comportamento tão estranho quanto o de Sedna. Seria o novo V774104 um terceiro objeto dessa família? Poderia ele ajudar a apontar em que direção estaria o tal planeta além do cinturão de Kuiper, se é que ele existe mesmo? Ou poderiam esses objetos contar uma história de migração dos planetas gigantes conhecidos em seu passado remoto, saindo das profundezas para regiões mais próximas do Sol?
Não temos ainda nenhuma dessas respostas. De toda forma, a investigação do cinturão de Kuiper e de uma região ainda mais distante, a chamada nuvem de Oort, podem ajudar a desvendar a evolução histórica do Sistema Solar em seus primeiros anos e até mesmo determinar com exatidão quantos planetas temos por essas bandas.

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