Base da PM em Paraisópolis é aposta para reduzir roubos no Morumbi
Bairro nobre foi alvo de arrastões nas últimas duas semanas
Em duas semanas, o bairro do Morumbi, região nobre de São Paulo, sofreu ao menos quatro arrastões. Os bandidos adotam quase sempre a mesma tática: abordam motoristas parados em cruzamentos, fazem a limpa nos carros e fogem com os comparsas em motos.
Para frear a criminalidade, moradores da região aguardam há um ano e meio pela instalação de uma base fixa da Polícia Militar dentro de Paraisópolis, uma comunidade pobre que é vizinha a edifícios e mansões de classe alta.
“O problema é que hoje existe uma ‘cidade’ dentro da nossa área, e você precisa dar um jeito nessa cidade, que está meio largada”, afirma Celso Neves Cavallini, de 70 anos, presidente do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) do Portal do Morumbi.
— A implementação dessa base com certeza vai melhorar e muito a segurança do nosso bairro.
O problema é que a instalação da base está emperrada. O governador Geraldo Alckmin assinou, em abril do ano passado, o decreto de desapropriação de um terreno de 300 m² onde será feita a construção. As obras, no entanto, ainda não começaram.
Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) confirmou que a base da PM será instalada "em um terreno localizado no centro de Paraisópolis. O local foi considerado estratégico, pois tem boa visibilidade, fácil acesso as vielas e todas as condições técnicas necessárias para a instalação da base. A desapropriação do terreno foi autorizada pela Justiça e a reintegração de posse acontecerá em novembro".
Insegurança e alarde
Para um aposentado de 70 anos, que não quis se identificar para a reportagem, as pessoas estão “inseguras na região”.
— Há um mês um policial foi atingido por um bandido num arrastão. Quarta-feira passada (28) um policial matou um bandido. E isso só nesse farol aqui.
O aposentado se refere à esquina formada pela avenida Morumbi e a rua Doutor Flávio Américo Maurano, via que dá acesso a Paraisópolis. O local é ladeado por dois terrenos vazios e duas mansões também vazias à venda.
Foi ali onde, no último dia 28, um arrastão terminou com a morte de um dos bandidos, um jovem de 19 anos, atingido por um policial civil.
Três dias antes, quatro homens roubaram vários veículos em outra esquina, entre as ruas Deputado Laércio Corte e Dr. Mário Vatanabe, em frente ao cemitério do Morumbi.
A área, que é conhecida como “esquina do medo” pelo histórico de assaltos, também possui um terreno vazio e casas para venda e locação.
Para Cavallini, no entanto, existe um “exagero” no apelido e também ao se tratar a violência no bairro.
— Um roubo só já é ruim, e para a vítima é péssimo. Mas temos de fazer um comparativo do que acontece, porque, pelos números, nós estamos baixando [a criminalidade]. Do começo do ano para cá foram dois roubos [nessa esquina].
A violência no bairro está de fato menor em 2015, na comparação com 2014, porém maior do que 2013.
As estatísticas da SSP consideram esses assaltos como “roubos/outros”, que inclui roubo à residência, roubo a interior de veículos, roubo a estabelecimentos comerciais e roubo a pedestres. De janeiro a setembro deste ano, foram 1.276 ocorrências, contra 1.415 no ano passado e 1.037 no mesmo período de 2013.
Para o presidente do Conseg, há outros pontos “mais problemáticos” na região.
— A [avenida] Giovanni Gronchi talvez seja a mais bem policiada de São Paulo, mas mesmo assim existem roubos lá, porque é uma rota fácil de fuga. O que precisamos é trancar a rota de fuga.
Reforço policial
Desde o dia 29, a Secretaria de Segurança Pública aumentou o efetivo policial no Morumbi com equipes da Rota (a tropa de elite da PM). GOE (Grupo de Operações Especiais) e Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) também participam de operação conjunta com a PM para prender os suspeitos. A pasta informou também que há uma base comunitária móvel 24h na esquina da avenida Francisco Tomás de Carvalho com a rua Hernest Renan.
Na tarde de quarta-feira (4), foram detidos cinco suspeitos de participar de uma quadrilha que praticava assaltos a residências na região — dois eram procurados pela Justiça. Joias, televisores, aparelhos eletrônicos e relógios foram encontrados no imóvel dos suspeitos.
O segurança de uma escola afirmou à reportagem que, desde o início da operação, há mais viaturas policiais circulando pelo bairro.
Na última quarta-feira (4), a reportagem só encontrou policiais fixos na esquina da avenida Giovanni Gronchi com a rua Clementine Brenne, que também dá acesso a Paraisópolis. Mas relatos dos moradores apontam que as viaturas policiais costumam estacionar em alguns locais críticos, mas somente nos horários de pico do trânsito.
“Há mais policiais fazendo a prevenção, isso não tem a menor dúvida. É uma espécie de choque de gestão. Isso funciona se outras medidas forem tomadas, como a base dentro de Paraisópolis. Aí nós veremos outros resultados”, diz Cavallini.
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