sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Alguém disse alien?

Representação artística simplificada de um 'enxame de Dyson', forma como se imagina que possa se organizar uma esfera de Dyson










Imagem: Representação artística simplificada de um 'enxame de Dyson', forma como se imagina que possa se organizar uma esfera de Dyson (Vedexent/Wikipedia)
Sim, disse! Esta semana um estudo a respeito de uma estrela observada pelo satélite Kepler está dando o que falar. E certeza que vai continuar a repercutir durante algum tempo. Vamos lá: 
Uma equipe de pesquisadores lidera por Tabetha Boyajian, da Universidade de Yale (EUA), publicou um artigo reportando o estudo de uma estrela observada pelo satélite Kepler, o mais profícuo caçador de exoplanetas da história. Trata-se de KIC 8462852, uma estrela um pouco mais quente que o nosso Sol a uma distância de 1.500 anos luz na direção da constelação do Cisne. Na verdade, o Kepler não vê exoplanetas, ele observa continuamente as estrelas na constelação do Cisne e da Lira, e se por acaso um planeta passar na frente da estrela, o minúsculo decréscimo de brilho dela será registrado. Esse fenômeno é chamado de trânsito, que identifica um bom candidato a exoplaneta, mas a confirmação só vem depois com o uso de outras técnicas, como a dispersão da luz da estrela, numa técnica chamada espectroscopia.
A suspeita da vez, a estrela KIC 8462852, mostrou sim variações de brilho ao longo dos 4 anos da primeira parte da missão do Kepler. Algumas delas esperadas para estrelas, mas nenhuma que fosse uma assinatura típica de um trânsito de exoplaneta. Mas o que chama a atenção são quatro eventos de queda de brilho que estão tirando o sono de todo mundo que viu esse trabalho publicado.
Em duas delas, o brilho da estrela cai uns 15%, o que já é bastante, mas em outra época ocorrem duas outras quedas de brilho, mas nesses casos de 25%!! Isso é assustadoramente muito! Sério, trânsito de exoplanetas do tamanho de Júpiteres gigantes são responsáveis por diminuir o brilho de sua estrela hospedeira em valores pequenos, como 1-2% no máximo. Não há exoplaneta que bloqueie quase um quarto do brilho de uma estrela. O que poderia ser então?
Poderia ser uma estrela bem mais escura, mas não é. A espectroscopia mostraria isso.
Poderia ser uma densa nuvem de destroços oriunda de uma gigantesca colisão entre planetas em formação, mas também não é. Se fosse isso a estrela emitiria grandes quantidades de radiação infravermelha e não é o caso.
Gigantescas manchas estelares (as manchas solares das estrelas) também não explicam essa perda de brilho descomunal. Elas precisariam cobrir quase a metade da superfície da estrela. Na verdade, uma das variações de brilho observada na curva de luz de KIC 8462852 revela a presença de manchas estelares e marcam bem o período de rotação da estrela, que é de apenas 21 horas! Muito rápido. Imagine uma estrela um pouco maior que o Sol girando mais rápido do que a Terra! Para comparar, nosso Sol completa uma rotação em 24 dias. Mas essa rapidez toda importa nesse caso? Sim, essa é uma característica de estrelas muito jovens e por isso a hipótese da nuvem de destroços de planetas em formação seria cabível, não fosse a falta do infravermelho.
Além desses casos extremos de queda de brilho, de 15 e 22%, outros eventos menos intensos acontecem de forma quase periódica. Há eventos ocorrendo em um intervalo que varia entre 5 e 80 dias. Mesmo esses casos são esquisitos, pois se fossem corpos celestes orbitando a estrela, eles precisariam ser periódicos.
Além disso, no momento em que a luz é bloqueada durante um trânsito, a curva de queda de brilho quando o corpo entra na frente da estrela tem a mesma forma da curva de aumento de brilho quando o corpo termina o trânsito, mas nem isso acontece!
Então, ninguém tem alguma hipótese?
Sim, tem. Depois de excluir possíveis problemas com o telescópio, com a câmera ou qualquer outro defeito instrumental, Boyajian e seus colegas propõem que uma estrela teria perturbado a nuvem de Oort da estrela KIC 8462852. Essa nuvem funciona como um reservatório de cometas, formados dos resquícios da nuvem que originou a estrela. Isso deve ter acontecido no nosso Sistema Solar e poderia acontecer com essa estrela esquisita.
A passagem dessa estrela desestabilizaria uma quantidade enorme de cometas da nuvem e eles cairiam todos na KIC 8462852. Muito antes de chegar nela, eles evaporariam formando uma nuvem densa que bloquearia sua luz. Mas isso é plausível?
É, e até tem uma estrelinha suspeita nas proximidades, mas é preciso observa-lá cuidadosamente durante algum tempo para ver se ela realmente passou perto de KIC 8462852. Mas para produzir esse bloqueio todo teria de ser uma quantidade enorme de cometas, que produzisse uma nuvem muito densa para bloquear quase um quarto do brilho da estrela. Na minha opinião, uma nuvem dessas teria de deixar alguns rastros detectáveis, por exemplo, o vapor d’água, ou o vapor de todos os compostos do núcleo deveriam ser observados na espectroscopia, e não foram. Ou mesmo causar um excesso de emissão infravermelha, que também não existe. Enfim, apesar de improvável, é o melhor que temos por enquanto.
Mas o que os aliens têm a ver com isso?
É que Boyajian mostrou seus resultados para um colega, Jason Wright que é um grande entusiasta pela busca de pistas que levem à descoberta de civilizações avançadas no espaço. Pistas sérias, nada de círculos em plantação de milho, pirâmides em Marte ou outras baboseiras.
Que pistas seriam essas? Por exemplo, conforme uma civilização vai se desenvolvendo, ela necessita de quantidades cada vez maiores de energia para se sustentar e continuar crescendo. Chega uma hora que ela esgota a capacidade do próprio planeta em que ela está e precisa arrumar energia de algum lugar. Freeman Dyson, um físico britânico, propôs que seria mais lógico que essa civilização procurasse capturar a energia emitida pela sua própria estrela, construindo uma mega estrutura espacial com painéis solares. Os painéis seriam gigantescos e no limite em que a civilização exigisse quantidades absurdas de energia, a estrutura envolveria toda a estrela, como uma cápsula. Essa estrutura, que tem o nome de Esfera de Dyson, bloquearia a luz da estrela deixando-a invisível aos nosso olhos, mas como ela absorve toda a luz e esquenta, emitiria quantidades enormes de radiação infravermelha. Essa é uma das pistas que Wright e seus colegas procuram na nossa Galáxia e em outras por aí.
Bom, apesar de fraquinha, KIC 8462852 não é invisível e nem emite infravermelho em excesso. Como ela se encaixaria nesse cenário da Esfera de Dyson? Wright diz que estaríamos observando uma esfera em construção, ainda incompleta como nessa figura. As quatro quedas absurdas de brilho teriam sido os momentos em que as estruturas já construídas teriam bloqueado a luz na nossa direção. O resto da estrutura, parcialmente montada, seria responsável pelas variações quase periódicas de brilho. Como a esfera ainda não estaria terminada, não haveria quantidades apreciáveis de infravermelho para serem detectadas.
Claro que isso tudo é especulação, é mais fácil uma nuvem de Oort inteira ser tragada pela estrela, do que haver uma civilização tão avançada assim e mais ainda, que tivéssemos flagrado o exato instante que parte de uma estrutura espacial complexa tivesse bloqueado a luz da estrela. Mas especular não custa nada!
Infelizmente, continuar a observar essa estrela custa. O Kepler não tem mais a capacidade de produzir dados tão precisos. Observar da Terra exige um telescópio dedicado a essa tarefa por pelo menos mais 4 anos para tentar verificar se os eventos se repetem, o que não é garantido. Nesse nível de especulação, isso será impossível de se conseguir. Mas uma coisa dá para fazer.
Wright e Boyajian pretendem obter algum tempo para observar KIC 8462852 em ondas de rádio. A ideia é muito boa e muito promissora. Caso exista mesmo uma civilização com esse grau de desenvolvimento, ela certamente domina as transmissão por rádio e a 1.500 anos luz de distância não seria difícil de detectá-las. Mesmo que ninguém por lá tenha noção de nossa existência e esteja transmitindo alguma mensagem para nós, alguma fração das transmissões locais escapa para o espaço, assim como acontece conosco com o rádio e a TV, e caberia a Wright e Boyajian procurar as frequências certas. Para fazer esse tipo de monitoramento, não é necessário tanto tempo de radiotelescópio, o que deixa as coisas mais promissoras.

Esse é um caso muito interessante, que merece mais tempo de estudo. Mesmo que essa ideia de Esfera de Dyson seja uma grande viagem, nenhuma das 150 mil estrelas estudadas pelo Kepler tem um comportamento tão bizarro, a estrela por si só merece mais atenção!

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