segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Por que não nos lembramos de nada sobre quando éramos bebês?


Publicado em 3.08.2015

Praticamente ninguém tem lembranças dos seus primeiros anos de vida, mas não é porque seres humanos são incapazes de reter informações quando pequenos.
De acordo com a ciência, pode ser que não nos lembramos de nada porque, nessa idade, nossos cérebros ainda não desempenham uma função que agrupa informações em padrões neurais complexos que conhecemos como “memórias episódicas”.

Entre lembrar e lembrar com detalhes

É claro que as crianças se lembram de fatos como quem são seus pais, ou que devem dizer “por favor” antes de pedir algo a alguém. Isso é chamado de “memória semântica” e prova que, mesmo muito pequenos, nós podemos reter informações.
No entanto, em algum momento entre as idades de dois e quatro anos, as crianças não têm “memória episódica” – memória sobre os detalhes de um evento específico.
Estas memórias são armazenadas em várias partes da superfície do cérebro, ou “córtex”. Por exemplo, a memória de som é processada nos córtices auditivos, nas laterais do cérebro, enquanto a memória visual é gerida pelo córtex visual, na parte de trás. A região do cérebro chamada de hipocampo une todos esses “pedaços” de informações.

Buquê de memórias

“Se você pensar em seu córtex como um canteiro de flores, há flores em todo o topo de sua cabeça. O hipocampo, dobrado muito ordenadamente no meio de seu cérebro, é responsável por puxar todas elas e amarrá-las em um buquê”, explica Patricia Bauer, da Universidade Emory, em Atlanta (EUA). “A memória é o buquê – o padrão neural de ligações entre as partes do cérebro onde uma lembrança é armazenada”.

É melhor não lembrar

Então, por que as crianças geralmente não conseguem gravar episódios específicos até a faixa etária de dois a quatro anos? Pode ser porque essa é a época na qual o hipocampo começa a “amarrar” fragmentos de informação.
Segundo a psicóloga Nora Newcombe, da Universidade Temple, na Filadélfia (EUA), pode haver uma razão para isso. A memória episódica pode ser desnecessariamente complexa num momento em que a criança está começando a aprender como o mundo funciona.
 “Eu acho que o principal objetivo dos dois primeiros anos é adquirir conhecimento semântico. Desse ponto de vista, a memória episódica pode realmente ser uma distração”, argumenta Newcombe.

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